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Foto do escritorNice Tupinabá

A nova cacica da aldeia Krenedha é uma indígena mulher forjada na luta

Atualizado: 3 de jun. de 2021


O-É Kaiapó, esse é o nome dela, mulher indígena que assumiu o cacicado da aldeia Krenedha, localizada em Ourilândia do Norte, há pouco mais de dez dias, em uma cerimônia realizada na aldeia Moikarakô, lugar escolhido para festejar um momento tão especial, e que também guarda raízes da originária, o ensejo foi cumprido com maestria em cada etapa do empossamento, respeitando a figura feminina, que toma para si o lugar deixado por seu pai, Paulinho Paiakan, que infelizmente faleceu após complicações da covid-19. Junto ao título de cacica vem também a responsabilidade de uma luta contínua, que resiste e insiste pelo direito de existir.

Eu não pude me fazer presente fisicamente na posse dessa companheira de luta, mas meu pensamento elevou a O-É, boas energias e desejos de que essa nova etapa da vida dela seja repleta de sabedoria, para lidar com as tentativas de apagamento da origem da nossa história e da nossa gente. O sentimento é de felicidade e emoção, por enxergar na cacica um rumo diferente para o futuro de outras mulheres, que por meio dela serão representadas e um dia também serão a personagem principal da própria história.


Diante de um país tão machista, a vida das mulheres dentro das aldeias nos traz um acalento, por percebermos que lá o protagonismo feminino tem vez, que a liberdade é validada, respeitada e aceita. Mas não podemos esquecer que a luta por emancipação é coletiva, e não recuaremos, até que todas sejam libertas das amarras postas pela sociedade patriarcal em que vivemos. O-É, é uma mulher aguerrida, que galgou a conquista de estar em um dos mais altos patamares de comando dentro da aldeia, e isso, representa uma luta plural em busca de espaços de fala e liderança. Para que não somente nas comunidades indígenas, mas também fora delas as vozes de todas as mulheres sejam ecoadas.


Algumas aldeias vivem fora da caixa de rótulos domésticos que insistem em relacionar ao sexo feminino, e possuem o que todas mulheres deveriam ter, o respeito e a valorização a sua capacidade na hora de preencherem espaços que em âmbito geral são ocupados por homens, assumindo a liderança do seu povo e reafirmando a revolução feminina rumo a igualdade em esferas de poder, principalmente dentro de um território que já nascemos na luta para nos mantermos vivos, se esgueirando de ataques vindos de todos os lados, seja por ganância ao ouro ou desrespeito e intolerância aos costumes da nossa gente. O título que O-É carrega agora, é resultado de lutas ancestrais que perpetuam até os dias de hoje. Viva O-É! Viva a representatividade feminina e a luta por igualdade de gênero e um viva as mulheres ancestrais que lutaram para que hoje estivéssemos aqui.


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