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A Volkswagen, a ditadura e o uso da imagem da Elis


— Foto: Volkswagen do Brasil/Youtube/Reprodução

O comercial da Volkswagen com Maria Rita e Elis Regina certamente abre um debate complexo e multifacetado sobre ética, capitalismo e memória histórica. A vinculação entre Elis Regina, uma figura emblemática que enfrentou perseguição durante a Ditadura Militar, e a Volkswagen, uma empresa que apoiou tanto a ditadura no Brasil quanto o nazismo de Hitler, é um lembrete poderoso de como o passado pode influenciar o presente e me questiono até que ponto podemos separar as ações de uma empresa de sua história sombria.



É importante reconhecer que a Ditadura Militar no Brasil não se restringiu apenas ao poder militar. Foi um regime que contou com apoio empresarial, tornando-se uma ditadura empresarial-militar. Empresas como a Volkswagen, assim como o Grupo Globo e muitas outras, apoiaram ativamente o regime autoritário brasileiro. Essa conexão estabelece uma relação intrínseca entre os interesses empresariais e o poder político, destacando como o capitalismo pode se envolver em contextos autoritários.



Com o distanciamento histórico, surge a pergunta fundamental sobre a possibilidade de separar uma coisa da outra. É difícil ignorar o fato de que a Volkswagen desempenhou um papel ativo no apoio a regimes repressivos, tanto no Brasil quanto na Alemanha nazista. Embora a empresa possa ter mudado e se reinventado ao longo dos anos, a herança sombria de seu passado permanece. Portanto, é fundamental questionar em que medida a empresa reconhece e lida com sua história de violência, autoritarismo, tortura e mortes.



Além do marketing afetivo utilizado na propaganda de seus 70 anos, é necessário avaliar as ações efetivas que a Volkswagen tem tomado. A empresa precisa ir além de campanhas publicitárias e assumir a responsabilidade por seu passado controverso. Isso implica em uma postura transparente e honesta, reconhecendo seus erros e envolvendo-se em iniciativas concretas de memória, conscientização e reparação.



Por fim, amar a música de Elis Regina não significa ignorar a história e o legado de luta e resistência que ela representou. É fundamental lembrar da história, tanto das pessoas como Elis, que enfrentaram perseguição e repressão durante a Ditadura Militar, quanto das empresas que apoiaram regimes autoritários. Somente ao reconhecer e confrontar esses eventos históricos sombrios podemos buscar um futuro mais justo e ético.

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