Em janeiro de 2020, Jair Bolsonaro (sem partido), promoveu Gutemberg Nader de Almeida Júnior, servidor que havia ingressado na Polícia Rodoviária Federal por meio de concurso em 2016, a substituto do chefe da divisão de trabalhos da corporação. Tu sabes quem é ele? Gutemberg foi um dos responsáveis pelo assassinato do Cacique, líder da etnia Pataxó, Galdino Jesus do Santos.
Galdino chegou a Brasília no dia 19 de abril de 1997, mas não voltaria a sua terra natal. Já no dia seguinte de sua chegada, a liderança indígena foi vítima de um brutal ataque, encabeçado por cinco jovens de classe alta filhos de importantes funcionários públicos do país. O crime chocou — e ainda choca — por tamanha violência.
Aos 44 anos, o líder indígena teve 95% de seu corpo queimado. O fogo não atingiu apenas a parte de trás de sua cabeça e a sola de seus pés. Devido a tal brutalidade, não conseguiu sobreviver, morrendo apenas algumas horas depois de ter sido levado ao hospital.
Como estamos falando de Brasil, a impunidade é presente, e hoje, um dos assassinos de Galdino ocupa o cargo de chefia da Divisão de Testes, Qualidade e Implantação por 11 meses, com direito a gratificações mensais de cerca de R$ 2 mil. Os adicionais foram somados a seu salário bruto, de mais de R$ 9 mil. Segundo o jornal, a portaria com a promoção do servidor foi assinada por André Luiz Marçal da Silva, coordenador de Recursos Humanos do Ministério da Justiça e Segurança Pública, então chefiado por Sérgio Moro. O comando da PRF era de Adriano Marcos Furtado, sendo assumido por Eduardo Aggio de Sá apenas em maio de 2020.
Gutemberg era o único menor de idade entre os cinco condenados pela morte de Galdino, tendo sido libertado em 12 de setembro de 1997, por decisão do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT). Durante uma sessão secreta, os desembargadores trocaram a internação de três anos por liberdade assistida. Segundo a legislação brasileira, quando o condenado atinge a maioridade o crime praticado na adolescência deve ser apagado.
Os outros quatro assassinos de Galdino- Tomás Oliveira de Almeida, Max Rogério Alves, Eron Chaves Oliveira e Antônio Novely Cardoso Vilanova- foram condenados, em 2001, a 14 anos de prisão em regime fechado por homicídio doloso. Em 2004 nenhum deles seguia preso. Atualmente, todos os condenados pelo crime trabalham em órgãos públicos com altos salários.
O irmão mais velho de Gutemberg, Tomás Oliveira de Almeida, por exemplo, é servidor do Senado Federal, onde atua na Coordenação de Comissões Permanentes. Segundo o Portal da Transparência, seu salário bruto é de R$ 21.476,11, somado a uma gratificação de R$ 5.763,32 por ocupar um cargo comissionado.
Após a saída de Moro do cargo, em abril de 2020, Gutemberg continuou exercendo a função por cerca de oito meses. Em maio, com o Ministério da Justiça sob chefia do atual advogado-geral da União, André Mendonça, a direção-geral da PRF passou a ser de Eduardo Aggio de Sá.
O ponto de ônibus onde Galdino foi assassinado brutalmente tornou-se a Praça do Compromisso, e, desde então até atualmente, o principal local de manifestações por demandas dos povos indígenas em Brasília. A lembrança de Galdino fica junto com a revolta de ver seus algozes no poder.
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