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Foto do escritorNice Tupinabá

Esquerda brasileira: A luta exige coragem



João Guimarães Rosa, o grande escritor brasileiro do século 20, dizia que a vida quer da gente coragem. Ora esquenta, ora esfria, aperta e afrouxa, mas sempre exige coragem. A situação do país nestes primeiros dias de setembro revela a dramática atualidade do genial autor de Grande Sertão: Veredas. Num Brasil triturado pelo pior governo de sua história, vivemos à beira do precipício. Agora, para piorar, a ameaça de golpe, de ruptura da frágil ordem democrática deixou de ser apenas bravata para frequentar a agenda de preocupações de todos os analistas sérios do País. Como se sabe, o fundo do poço simplesmente não existe. O que está ruim, sempre pode piorar.


Diante dos atos inconstitucionais convocados pelo presidente para o feriado nacional desta terça, 7, como reagem as forças políticas de esquerda e de centro?

A grande maioria se limita a lançar notas e subscrever manifestos, deixando ao STF a tarefa de enfrentar, quase solitariamente, a ameaça golpista, perigosa e vale dizer, armada até os dentes. Situação perigosa e imprevisível.


É verdade que haverá atos da esquerda social e partidária em todo o país. Será mais uma edição do Grito dos Excluídos. Em São Paulo, por exemplo, após uma batalha judicial contra o governo Dória, os movimentos ganharam o direito de fazer seu ato no Vale do Anhangabaú, enquanto a extrema-direita bolsonarista ocupará a Avenida Paulista. Sem dúvida nenhuma já é um começo, mas tímido e insuficiente.


É importante que se diga que, neste exato instante, apenas o movimento indígena está levando a sério a tarefa de enfrentar Bolsonaro nas ruas, com a radicalidade que estes tempos turbulentos exigem. Sabedores de que a questão do marco temporal é de vida ou morte, os indígenas estão aos milhares há mais de duas semanas acampados em Brasília, realizando atos diários até que o STF derrote em definitivo essa tese genocida e, ao mesmo tempo, pressionam a Câmara para impedir que o PL 490 faça o trabalho sujo em favor dos ruralistas, uma espécie de plano B diante da iminente derrota no Supremo.


Fica o alerta às esquerdas e movimentos sociais: apostar todas as fichas na solução eleitoral em 2022, mesmo sendo justa a unificação em torno de Lula, pode ser um risco extremamente perigoso. É preciso ter coragem para combater e derrotar Bolsonaro em todos os campos e as ruas não podem virar playground de neonazistas vestidos de verde e amarelo.


Cadê as grandes mobilizações das centrais sindicais (CUT, CTB, CGTB, CSB com Lutas, Força sindical, força Intersindical)? Cadê as frentes “Povo sem Medo” e “Brasil popular”? Cadê o grande levante da juventude puxado pela gloriosa “União Nacional dos Estudantes UNE”? Cadê a esquerda na rua com sangue nos olhos defendendo a democracia? Será que só o povo indígena vai dar mais uma vez a própria vida para defender os direitos que são de todos? As ruas sempre foram nossas e não deles, “é nas ruas que a gente se encontra’, é hora de erguer os punhos e fazer resistência em defesa da democracia.


Coragem, ainda há tempo!

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