A ramada no centro da aldeia Ytapu-tir, simboliza a resistência de uma cultura viva do povo que renasceu com toda a força de seus ancestrais.
A festa das crianças, que aconteceu na aldeia Ytapu-tir do povo Tembé Tenetehar da Terra indígena alto Rio Guamá (TIARG), em Santa Luzia do Pará, no último fim de semana, representa a força cultural e ancestral desse povo originário.
O significado da festa
Foto da festa das crianças: Arquivo Nice Tupinambá
O ritual é para fazer o “remédio” que significa cura e proteção das crianças, os pequenos que são banhados de jenipapo recebem o reconhecimento do seu nome na cultura Tembé, e são apresentados ao povo e aos encantados que são os espíritos de indígenas já falecidos e aos espíritos da floresta que também chegam para dançar e conhecer as crianças.
Alguns assemelham o momento do ritual com o batismo, existente em algumas religiões ocidentais. “Essa festa é o remédio das crianças para que os bichos da água não façam mal para elas, para que não peguem quebranto, é como se fosse um batizado” disse Paulinho Tembé, “Hoje as crianças foram apresentadas e agora os karuaras (espíritos encantados) já conhecem ela”, completou Paulinho Tembé, um dos cantores da festa e que tem o dom da pajelança.
Eu Nice Tupinambá, levei minha filha Inaê de 4 anos para fazer a festa, foi a realização de um sonho que eu não vivi quando criança. Inaê renasceu Tembé e recebeu o remédio de cura e proteção, vai precisar cumprir algumas regrinhas como não sair de casa até que todo o jenipapo saia do seu corpo.
OS PARTICIPANTES DA FEST
Foto: Muruka e sua filha Ywyrarum do lado esquerdo
Para a mãe da pequena Ywyrarun, Muruka Tembé, a participação no ritual é importante para que a filha carregue a proteção durante toda a sua vida. " o ritual é bom para que ela tenha uma vida boa, com saúde e cresça forte, para depois ela pular com o marido e os filhos dela", explicou Muruka.
As comunidades de outras aldeias chegam para “pular o Kaê Kaê” que com muita animação celebram a festa das crianças, o momento tradicional é repleto de emoção, boas energias e vibrações que são sentidas até mesmo pelos visitantes que vêm de fora das aldeias para conhecer a cultura do povo. “Poder vivenciar a cultura indígena na sua forma mais viva e real foi sem dúvida um dos momentos mais importantes da minha vida. A energia que a gente sentia no momento em que acontecia o ritual era tão forte que em vários momentos eu chorei de emoção”, relatou a jornalista Flávia Barros.
PREPARATIVOS PARA A FESTA
A movimentação na aldeia começou bem antes do início do ritual, quando construíram a grande ramada, onde acontecem os rituais e reuniões da comunidade. A festa das crianças foi a primeira festa nesse lugar sagrado da aldeia Yta-putir.
A comunidade se reuniu para fazer manualmente os cocás e outros adereços usados pelas crianças no momento da celebração. A pintura feita nos demais participantes da festa foi da “borboleta”, todos que chegavam para festa eram pintados com essa mesma pintura, que é muito linda e delicada.
O RITUAL
vídeo de alguns dos momentos da festa
O ritual sagrado foi com as canções tradicionais cantadas por homens e mulheres ao som dos maracás e a dança cultura. Durante toda a festa as crianças dançam no colo dos pais ou andando acompanhada dos mesmos ou de algum participante que entra para dançar, mas todos que estão presentes entram na dança e cantam junto também. O pássaro mutum é o símbolo sagrado da festa, que foi assado e desfiado depois é passado no corpo das crianças e misturado na farinha e distribuído para ser comido pelos participantes.
Ao final do ritual, todo o público presente se reuniu aos que estavam na roda para dançar e cantar no encerramento da festa, que terminou com um convite para a próxima festividade, o moqueado, festa da menina moça que será realizada no mês de setembro deste ano.
Sobre essa festa vou escrever várias matérias especiais, essa só é um resumo especial, mas teremos texto sobre o jenipapo, a ramada, a aldeia e muito mais.
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