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Foto do escritorNice Tupinabá

Não vão nos calar: estudantes indígenas que denunciaram racismo sofrem processo na Ufpa

Atualizado: 2 de fev. de 2022





“A mentira e a manipulação colocam a vida de pessoas integras em risco”

Ailton Krenak


Nossos algozes não dormem, principalmente quando levantamos nossa voz para exigir o mínimo que se espera em uma sociedade, o respeito. É o que está acontecendo com os estudantes indígenas da Universidade Federal do Pará (UFPA) campus de Altamira, Alexandre Arapuim, Claudia Xipaya Elisângela Xipaya, Gabriel Silva Braga, Mitã Xipaya, Kaio Xipaya, Kanauã Curuaya, Nayara Curuaia, e Mônica Brito Soares, eles estão sendo processados judicialmente pela professora de Engenharia Florestal da Instituição, Márcia Orie de Sousa Hamada, por terem denunciado ainda em 2021, atos de racismo e perseguição, contra ela e o professor também de engenharia florestal, Iselino Nogueira Jardim. Na oportunidade, vários estudantes indígenas ou não fizeram um protesto cobrando justiça e posicionamento da instituição sobre a atitude racista da professora e do professor. Por denunciarem o caso, agora os alunos estão sendo processados pela professora Márcia Hamada.


Os alunos foram intimados a depor na Seccional de Altamira, na manhã desta quarta-feira (02). Vale lembrar que, na época, os alunos protestavam também contra a nomeação dos dois docentes ao cargo de Coordenadores do curso de Engenharia Florestal, no campus de Altamira.


Não é de hoje que as universidades brasileiras são palcos de situações racistas por parte do próprio corpo gestor, professores e funcionários praticam constantemente discriminações contra os povos indígenas. Ainda mais desesperador e desestimulante é organizar e protagonizar um ato revolucionário, com o objetivo de solucionar essas problemáticas e ser silenciado ou ter sua palavra colocada em lugar de dúvida, como é o caso dos estudantes envolvidos , manifestaram-se contra a atitude desprezível dos professores e contra a nomeação dos mesmos, mas após três meses do ocorrido, nada foi feito, ninguém foi punido, os professores continuam empossados na Universidade, plantando processos nas costas dos inocentes.


É desolador tentar mudar o futuro dos povos originários que estão inseridos dentro das instituições de ensino e se deparar com dirigentes que não estão comprometidos com a verdade, e ao invés de combater todo e qualquer tipo de prática racista, somente reforçam tal ato diante de um espaço que é sinônimo de lutas e tamanha resistência: a sala de aula.


Na época do ocorrido, o atual reitor da UFPA Emmanuel Tourinho se comprometeu em ajudar os estudantes indígenas na luta antiterrorista e reconheceu como “erro” a nomeação dos professores racistas, pois na época o reitor acabou assinando por engano a portaria que nomeava os docentes ao cargo de coordenadores, mas ao perceber o que havia sido feito, Tourinho logo corrigiu o erro anulando a portaria e desqualificando os professores do cargo.


A estudante de Direito Raquel Xipaia, filha de Elisangela Xipaia, vítima do episódio racista em 2021 e que está sendo processada pela professora, diz que não entendeu os motivos que fizeram a professora mover o processo contra a mãe e os demais colegas, já que todos os estudantes que estavam envolvidos no ato se apresentaram munidos de provas e testemunhas contra os dois professores, “É um absurdo tudo isso, ela está processando todos eles somente por falarem a verdade”, finalizou Raquel.


Esse caso não é isolado, não é de hoje que indígenas apresentam denúncias plausíveis contra o sistema racista de instituições de ensino e os casos são voltados contra eles próprios, outra situação semelhante a essa, foi o caso que aconteceu na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), em 2019, quando a instituição moveu um processo contra a coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), Auricelia Arapium e mais duas lideranças indígenas, Alessandra Munuruku e Willames Borari, após o grupo reivindicar a permanência de estudantes indígenas por meio de bolsas de estudo.


Difícil demais viver diante desse cenário, o local que era ideal para ensinar e combater qualquer prática discriminatória é o mesmo local que tenta silenciar as vozes de quem luta pela igualdade de direitos, pelo fim da opressão, da perseguição, do preconceito e do racismo, infelizmente a sala de aula está longe de ser um espaço pensado de forma que inclua todos os grupos e etnias, mas ainda assim não vamos parar de lutar, a caminhada é difícil mas estaremos juntos batendo de frente contra esse sistema de ensino discriminatório.



Relembre o caso: Conforme a denúncia, o ato de racismo aconteceu dentro do Campus da UFPA-Altamira.


2019 / JUL - Na apresentação de TCC da Indigena Maeli Curuaia , a professora Márcia Hamada mandou ela tirar o cocar e assediou publicamente diante dos estudantes;

2021 / JUN - O professor Iselino foi denunciado pelos estudantes indígenas por assediar e tratar com racismo Elisangela Xipaya, “se ele ganhasse a diretoria do Campus, ele ferraria com estudantes indígenas e quilombolas.


Processos movidos contra os estudantes:


1- Processo nº 0800011-48.2022.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA x GABRIEL SILVA BRAGA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 09:20 - 09:40


2- Processo nº 0805971-19.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA HAMADA x ELISÂNGELA DA SILVA VIANA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 10:00 - 10:20


3- Processo nº 0800010-63.2022.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA x KAYO XIPAIA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 09:40 - 10:00


4- Processo nº 0805927-97.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA HAMADA x ANA CLAUDIA SILVA VIANA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 10:20 - 10:40

5- Processo nº 0805911-46.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA x ALEXANDRE ARAPIUM

quarta-feira, 6 de abril de 2022 11:40 - 12:00


6- Processo nº 0805925-30.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA x KANAUÃ CURUAIA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 10:40 - 11:00


7- Processo nº 0805863-87.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE DE SOUSA x MITÃ XIPAIA

quarta-feira, 6 de abril de 2022 11:00 - 11:20


8- Processo nº 0805862-05.2021.8.14.0005 - MARCIA ORIE x MÔNICA BRITO SOARES

quarta-feira, 6 de abril de 2022 11:20 - 11:40


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