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Foto do escritorNice Tupinabá

UFOPA tenta criminalizar estudantes indígenas que lutam por melhorias na educação


A Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), está movendo um processo contra a vice coordenadora do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns (CITA), Auricelia Arapiun e mais duas lideranças indígenas, Alessandra Munuruku e Willames Borari, a ação iniciou depois do ato realizado no ano de 2019, na semana dos povos indígenas, quando o grupo reivindicou a permanência de estudantes indígenas por meio de bolsas de estudo. A acusação veio dois anos depois, com a chegada da intimação enviada pela Polícia Federal, no dia 4 deste mês, quando Auricelia descobriu mais de nove crimes enquadrados pela instituição de ensino, o defensor público entrou com um pedido de adiamento da audiência, tendo em vista a falta de conhecimento dos crimes que a indígena está sendo acusada.

“Eu recebi a intimação no dia 4, para depor dia 6, eu não sabia nem, do que se tratava, me sinto muito desestimulada para estudar, sou mãe de quatro filhos, recebi essa notícia em uma fase crítica da pandemia, passei todo esse período trabalhando para que os nossos direitos não sejam retirados, lutando pela saúde no combate a covid-19, levando cesta básica para as aldeias, e agora tendo que lidar com essa situação, eu moro sozinha com os meus filhos, sou mãe, estudante, militante, professora, dona de casa e nesse momento eu não consigo nem descrever o que eu estou sentindo nesses últimos dias de perseguição que a gente tem passado”, relatou emocionada, a indígena Auricelia Arapiun.

Ainda em 2019, no ato da manifestação, o colegiado da instituição de ensino chegou a debater e absorver o caso, no entanto, a Reitoria da UFOPA preferiu criminalizar e perseguir lideranças e estudantes indígenas, por meio de uma ação levada aos tribunais.


Auricelia Arapiun, tem 33 anos, e nasceu na aldeia de São Pedro, região do Rio Arapiun, do município de Santarém, a indígena acumula 19 anos de luta pelos direitos dos povos indígena. “Foi uma relação muito forte quando eu comecei a participar dos movimentos de luta, minha mãe que foi cacica na minha aldeia foi a minha maior incentivadora”, destacou Auricelia, que é formada em pedagogia. “Desde que eu entrei na universidade já fui fazendo resistência e mobilizando os outros colegas, fizemos uma luta por direitos, porque a universidade abriu o acesso, mas ainda não tem um programa de permanência de estudantes indígenas. E foi no início de 2019 que nós ocupamos a instituição, reivindicando os direitos que nos foram tirados com o corte de bolsas, e também, pela estrutura racista que a universidade carrega”, explicou a indígena do povo Arapiun.


Auricelia relata que durante a militância de 2019 teve vários problemas de saúde, incluindo a depressão e uma gravides de risco, em março de 2019 a indígena e estudante do curso de direito, escreveu uma carta para o Reitor, contando as dores como mãe, mulher, resistência e liderança indígena, mas não teve retorno. Em uma audiência marcada pelos estudantes com o Ministério Público e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que segundo Auricelia foi avisada com antecedência para Reitor, ele não compareceu, então o grupo decidiu ir até a reitoria. “Nós resolvemos ir até ele, entramos na sala dele e falamos do que estamos sentindo e do racismo que a universidade tem, da falta de apoio e assistência para a população indígena. Então ele marcou uma reunião para o dia seguinte, com os outros gestores da universidade, onde eu fui humilhada pelo pró-reitor de gestão estudantil, que se levantou e pediu que eu mostrasse o meu histórico, insinuando que eu não tinha moral para falar e pedir nada, por causa das notas baixas. Foi daí que começaram as tensões e uma discussão calorosa, eu entrei em choque, todos os estudantes se levantaram e foram para perto da mesa, enquanto o reitor em momento algum interviu ou se quer pediu para o pró-reitor usar melhor as palavras”, explicou.

Auricelia relata também, a falta de amparo da instituição que deveria defender os estudantes e não criminalizá-los e do quanto é difícil reviver tudo o que ela sofreu enquanto estava na Ufopa. “Eu me sinto muito ferida enquanto estudante, denunciar três lideranças indígenas, que já estão na linha de muita pressão externa é indignante, eu não gosto nem que fale o nome dessa instituição, é um espaço muito tóxico, muito violento, eu sei o que eu passei ali dentro, e só quem sofre esse tipo de ataque sabe o quanto é difícil, inclusive é muito difícil para eu falar dessa situação”, finalizou Auricelia.

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