
“A injustiça num lugar qualquer é uma ameaça à justiça em todo o lugar.”
Martin Luther King
No dia 12 de fevereiro completa 1 ano do assassinato brutal de Isac Tembé. O guerreiro e liderança jovem do seu povo, formado em história, Pai de cinco meninas, irmão de mais 8, saiu para caçar no final da tarde do dia 12 de fevereiro de 2021, e não retornou vivo.
O assassinato de Isac é a ponta do iceberg que envolve a invasão de terras indígenas no Brasil. Os colonizadores que aqui chegaram não se foram; deixaram seus descendentes e o Estado brasileiro até hoje não reparou os erros cometidos contra os povos que aqui existem e resistem. O Brasil vive uma eterna invasão.
No dia de sua morte, Isac caçava na zona de amortecimento da Terra Indígena Alto Rio Guamá (uma faixa de 5 quilômetros para proteger seu território), mas que não é respeitada pela fazenda vizinha chamada Ouro Verde, do fazendeiro Nédio Lopes, que possui fama de “matador”. O assassinato de Isac ocorreu na fronteira com a Fazenda Boa Vista, na área que ainda se compreende como Terra indígena e não Terra de fazenda.
Segundo parentes que moram próximo a região, disseram que ouviram os tiros, pois o fato ocorreu próximo da aldeia, “Era por volta de 19h da noite, já estava escuro, ouvimos muitos tiros, para o outro lado do rio, não sabíamos nada do que estava acontecendo; só viemos saber do assassinato de Isac por volta de 23 horas, mas nem sabíamos que era Isac”, relatou na época um indígena que não podemos identificar por razões de segurança.
Relato da liderança Paulinho Tembé, técnico de enfermagem
Paulinho Tembé estava em Capitão Poço quando foi avisado por uma pessoa conhecida que havia um corpo de indígena na Sesma, unidade de saúde do município. “Foi por volta de 22 horas que eu fui até a Sesma e vi o corpo do meu primo em uma maca. Ele já estava morto e me falaram que a própria Polícia é que o levou para lá”. Paulinho e outras lideranças que vieram da aldeia foram até a delegacia, que estava fechada, por volta de meia noite. “Ficamos horas na frente da delegacia sem que ninguém nos atendesse. Ficamos chamando e batendo e não abriram”, relata Paulinho.
Um ano após o assassinato de Isac, Paulinho teme que não haja justiça pela morte de seu primo “até hoje é um caso que nos deixa triste, chocados. Na época da morte do Isac eu mexi com gente que podia cometer algum tipo de represália comigo, mas eu fiz tudo isso em busca de justiça”
Hoje Paulinho conta que é comum ver os mesmos policiais suspeitos pela morte de seu primo fazendo as rondas normalmente “esses caras estão patrulhando normalmente, nada aconteceu com eles” diz Paulinho indignado.
A dor da perda de Isac ainda é latente em nossas vidas, sua mãe, sua esposa, suas filhas e toda a a comunidade Tembé vivem na espera de respostas e justiça que possam de uma vez por todas resolver a morte do jovem guerreiro.
Atualização do Caso:
Em janeiro deste ano houve uma atualização no caso que está sendo investigado Pela Polícia Federal, MPF e pela corregedoria da Policia Militar do Pará. O Ministério Público Militar do Estado Pará por intermédio do promotor de Justiça da Polícia Militar, Armando Brasil Teixeira, concluiu que se trata de um homicídio doloso e por isso deve ser encaminhado para a justiça comum, contudo ainda não se sabe se realmente o TJE/PA será o responsável pelo julgamento, já que em março de 2021, foi declinada a competência para a Justiça Federal julgar o processo.
Desde o assassinato do Parente Isac Tembé sempre levantamos que a causa de sua morte se tratava de um homicídio, já sabíamos que as balas que mataram o jovem Isac saíram das mãos daqueles policiais, e resultado do ministério público só confirma o que já debatíamos naquela época.
O povo Tembé segue firme. Com o coração partido, mas com determinação para lutar até que a justiça seja feita. A memória de Isac Tembé será honrada e seus assassinos pagarão por esse crime covarde.
E para marcar esse um ano de luta por justiça o povo Tembé vai se dirigir nesta próxima Terça-feira (15), às 15h, até Paragominas para uma audiência com o procurador do Ministério Público Federal, para cobrar avanços na investigação e que se faça justiça. Na oportunidade um ato em forma de ritual será feito na frente do órgão de Justiça para em memória de Isac Tembé e a luta do povo.
Justiça por Isac Tembé!